Sempre que leite vira assunto, é comum para mim receber uma expressão de desgosto como resposta para essa questão, e isso se deve provavelmente aos anos em que aprendemos que o leite de vaca e latícinios em geral são realmente bons para nossa saúde. Se você concorda ou não em beber leite ou se alimentar de derivados do mesmo, aqui estão três fatos e uma cereja de bônus, que como treinador físico, eu sugiro que você considere antes de abrir a geladeira para mais um copo, ou ir até a esquina para comprar mais queijo ou iogurte.
1) O Leite & Derivados são Alimentos Processados e Industrializados. Com excessão do leite orgânico fresco proveniente de vacas e cabras criadas soltas e se alimentando de pasto naturalmente, nosso leite vem na maior parte de fazendas industrializadas, onde os animais são alimentados com grãos geneticamente modificados, medicamentos, hormônios e antibióticos, enquanto vivem sob condições estressantes de maneira que venham a favorecer aumento de produção por animal, mais lucros para o Mercado e diminuição de gastos para o Investidor.
O leite produzido é então recolhido e transportado (a qualidade diminui ao longo das horas), e processado através do sistema UHT (Temperatura Ultra-Elevada), da Homogeneização e Processo de Pasteurização. Esses processos são utilizados para esterilizar o leite assegurando que o mesmo está livre de contaminação por via aérea, mas acabam também por transformá-lo em um alimento menos digerível, pobre em probióticos e de valor nutricional mais baixo, se comparado ao leite orgânico fresco.
Uma vez processado, o leite pode então ser utilizado para a produção de laticínios. Como qualquer alimento industrializado, os produtos tornam-se então uma mistura de conservantes e aditivos, que embora sejam considerados seguros pelas autoridades legais, estão relacionados a doenças graves como câncer, alergias em geral, disfunções metabólicas e nervosas. Aditivos e conservantes podem ser adicionados para expandir a validade do produto a venda nas prateleiras, favorecer custos de produção mais baixos, esconder ou melhorar o verdadeiro sabor do produto e até mesmo para aumentar nossa vontade natural de consumir mais.
2) Você Não Precisa do Cálcio de Leite & Derivados. Você já viu vacas bebendo leite? Não. Animais obtem cálcio a partir de fontes alternativas de alimentos como nozes, sementes, legumes, vegetais e folhas. O leite é rico em cálcio quando medimos por xícara, por outro lado, quando medimos por Calorias, o leite é pobre em cálcio. 100 Calorias de espinafre tem três vezes mais cálcio do que 100 Calorias de leite integral.
Ainda assim, focar-se apenas no consumo de cálcio não parece ser uma decisão inteligente, já que nossos ossos são compostos por pelo menos uma dúzia de minerais, e diversas pesquisas apontam que não existe nenhuma associação entre a ingestão elevada de cálcio e menor risco de fratura. Considere que a osteoporose, muitas vezes relacionada ao envelhecimento e gênero, é também consequência de anos de má alimentação, atividade física insuficiente e altos níveis de stress. Além disso, não é todo mundo que pode digerir leite, por isso é importante considerar suas chances de ser intolerante a lactose.
3) Leite é para Bebês. Arnold "Exteminador Estará de Volta em 2015" Schwarzenegger foi feliz em sua afirmação. Embora o leite fresco seja cheio de nutrientes e favorável para o crescimento muscular devido a ser ricos em calorias e hormônios do crescimento, nós somos a única espécie em todo o planeta bebendo leite de outro animal após o desmame. O leite se torna desnecessário em nossa dieta a partir do ponto em que começamos a comer alimentos sólidos. Nem mesmo as vacas bebem o próprio leite após adultas!
E finalmente, um bônus para você que leu até aqui, a Cereja:
Depois de muitos anos bebendo e comendo laticínios, reconheço que o leite de boa qualidade, queijos, iogurtes e sorvetes podem possuir sabores e texturas excelentes, no entanto, a Ciência mostra que os benefícios para nossa Saúde ao consumir esses produtos podem ser alcançados por diversas outras opções de alimento.
Milhões e milhões de anos de evolução humana se passaram, no entanto, fazem apenas dez mil anos desde que começamos a beber leite. Talvez tenha sido o paladar que nos levou a adotar esse hábito, afinal de contas, mesmo que eu queira culpar a Indústria, eles não estavam lá naqueles tempos.
Como se esses três fatores não bastassem, vale a pena analisar o leite, laticínios e qualquer opção de alimento de origem animal, a partir de um visão mais holística, menos egoísta, de modo que possamos perceber que não é apenas decidir se é bom para nossa saúde ou eficaz para bíceps e ossos mais fortes, mas também como nosso consumo afeta o mundo ao nosso redor e a vida de outros seres vivos.
As embalagens dos produtos que compramos contribuem para o esgotamento de recursos naturais, poluem o Meio Ambiente, pois apesar de 75% delas serem recicláveis, apenas 30% é realmente reciclado. Animais estão sendo confinados, criados a base de hormônios e antibióticos, forçados a produzir leite, torturados a viver em condições inaceitáveis, enquanto nós nos preocupamos apenas com nosso prazer e conforto. A água está sendo desperdiçada, as florestas estão sendo substituídas por campos de gado e monoculturas, e a qualidade dos alimentos está caindo a fim de sustentar as necessidades do Mercado e manter altos lucros para a Indústria.
Uma Nota Final Para o Artigo Mais Longo de Todos: Já se passaram quatro anos desde que comecei a diminuir o meu consumo de leite e produtos lácteos; primeiro troquei o leite por uma ou outra dose de whey protein (proteína do soro de leite); parei com o consumo diário de queijo e iogurte; aderi ao consumo de leite fresco orgânico e agora, finalmente, fazem três meses desde que decidi remover laticínios completamente da minha dieta. Eu não estou me proibindo de tê-lo, simplesmente optando por não fazê-lo.
Não é porque você pode, que você deve. Pense e atue. Força.